Esta fábula sobre o Peru Soberbo e o Tucano Fanfarrão é apenas mais uma fábula?

O PERU SOBERBO E O TUCANO FANFARRÃO

Conta-se que em um galinheiro viviam felizes galos, galinhas, perus, peruas e outros galináceos de menor expressão.

Todas as tardes havia uma revoada de tucanos sobre o galinheiro pousando em uma frondosa umbaubeira, que dava sombra ao lugar. Ali chalravam alegremente, ao sabor do humor de um tucano mais espalhafatoso, o Tucano Fanfarrão, que parecia lhes contar histórias e anedotas. Anedotas que sempre cutucavam os perus, embaixo, com gracejos maldosos.

E o macho dominante dos perus, o Peru Soberbo, ficava irado com a chalrice dos tucanos, e não os entendia, por falar somente a língua dos perus. O Tucano Fanfarrão, bem que o provocava, procurando sempre um meio de aborrecê-lo e ter como resposta o glu glu glu interminável. Depois satisfeito com o tumulto provocado, os tucanos saiam em bando, defecando sobre as pobres aves abaixo.

Um dia, o Peru Soberbo, mitigando a sede, viu refletida no prato a imagem da Fada Perua que lhe dizia: Peru Soberbo, você é um visionário sofredor, por isso vou atender a três desejos que tenha a realizar. E ele, mais que depressa, formulou os seus pedidos, sem deixar a fada concluir aquele oferecimento.

1º) Quero ser bonito como o Tucano Fanfarrão, ter aquela pose e falar tão bem como ele.

2º) Quero lindas e poderosas asas para poder voar longe, como esse tucano lindo, alegre e tagarela.

3º) Quero ser o chefe não só deste galinheiro, como dos galinheiros de todo o pais.

E a fada madrinha atendeu os desejos do Peru Soberbo. Deu-lhe uma plumagem nova, tão linda, que ele ficou parecendo um pavão. Em seguida, deu-lhe o poder de voar, equipando-o com belas, ricas e poderosas asas, capazes de levá-lo onde quisesse. E, tornou-o o chefe em todos os galinheiros daquele país. Era o maior entre os galos, galinhas e gansos, gansas e seus pintainhos.

Agora, com asas e o resplendor da plumagem os tucanos não podiam mais azucriná-lo. Tinham que admirá-lo. Só de longe jogavam alguma piada sobre a nova vida dos perus e se recolhiam. E deixaram de defecar por cima do galinheiro, embora não parassem com as provocações.

Então o Peru Soberbo voou por todos os galinheiros do país e para o exterior também, mostrando a nova plumagem, as lindas asas de vôo e o novo gorgolejar afinado. Deixou de ciscar entre os gravetos e passou a se alimentar da melhor ração que havia, importada diretamente para ele. Procurava imitar o desafeto Fanfarrão em tudo; ansiava que o julgassem melhor do que ele.

Mas, o Peru Soberbo sendo elevado a tão alto nível precisava de apoio e ajuda para enfrentar a “tucanada” folgada e irritante. Partiu então para pedir a ajuda dos gatos e dos ratos que infestavam os galinheiros e furtavam a comida das pobres aves. E os gatos e ratos, que nada fazem de graça, apoiaram o peru e passaram a administrar diversos galinheiros, furtando ainda mais esses infelizes animais. E até alguns outros perus aproveitaram-se da situação para melhorar de vida, dividindo com os larápios o produto dos furtos.

O Peru Soberbo só percebeu que algo errado acontecia quando lhe trouxeram a cachaça. Em fim de mandato, foi degustado no jantar dos gatos e ratos, dos outros perus, dos demais galináceos e também dos tucanos, sendo servido à mesa pelos papagaios e periquitos, enquanto os corvos e urubus crocitavam, esperando as sobras.